O bairro, o Tó Punk e os Stranglers…
Sou bairrista. E assumo. Considero-me um privilegiado por
ter passado grande parte da minha vida em bairros. Na minha Alcântara de
sempre, mais concretamente no Alto de Santo Amaro, uma espécie de bairro dentro
do bairro, e no Bairro Alto, aqui por razões profissionais.
E digo com convicção: infelizmente, nem todos têm a
felicidade de crescer/viver num bairro, onde os «manos» nem sequer são irmãos e
ninguém fica para trás. Há união, amizade pura, sejas polícia ou ladrão, estudes
para padre ou vendas droga. Ninguém se olha com desdém.
Naturalmente, uns são mais amigos de uns do que de outros. É
normal. Mas no essencial todos empurram para o mesmo lado.
E num bairro há muitas histórias para contar, há sempre
aquelas figuras que marcam. Hoje, nem sei porquê, tenho-me lembrado do Tó Punk.
O Tó Punk era uma figuraça, uma maravilha de rapaz. Mas
olhar para ele… assustava. Então nos anos 80, em que tatuagens era coisa de
drogados. Mas o Tó Punk não era só tatuagens. Era botas da tropa, calças e t’shirts
rasgadas, correntes nos bolsos, brincos nas orelhas e piercing no nariz. Mas
era aquela crista no cabelo que mais chocava quem olhava. Uma crista enorme,
umas vezes cor de laranja, outras cor-de-rosa, enfim, a cor dependia do estado
de espírito do Tó naquele dia.
Não era uma simpatia. Defendia uma máxima do género «os punks
não se divertem» e, como tal, optava quase sempre por um ar fechado. Mas não
era por isso que deixava de ser «mano». Aparentava ser má companhia, mas não
era. Fumava as suas (muitas) brocas, mas não tentava ninguém.
Numa das ruas do bairro havia, na altura, um salão de jogos,
onde entre máquinas de moeda e matraquilhos também se passava muita droga, na
maioria haxixe. Só lá ia quem queria.
E entre as tais máquinas e matraquilhos havia uma caixa de
música. O cliente metia a moeda e escolhia o som que queria ouvir. Ali, reinava
o hard rock e o heavy metal – rap é coisa mais recente.
E é aqui que o Tó Punk entra outra vez em cena. Entrava no
salão de jogos de moeda na mão e escolhia sempre a mesma música: Golden Brown,
dos Stranglers. Encostava-se na caixa de música, fechava os olhos, sentia o som, sabia a letra de trás para a frente e de frente para trás. Batia o pé e
fingia tocar a bateria. Na verdade, ele até sabia tocar bateria, os movimentos
dele com baquetas imaginárias deviam de ser os corretos, as notas musicais
deviam ser aquelas.
A verdade é que ainda hoje, quando oiço os Stranglers,
sobretudo na malha Golden Brown, me lembro do Tó Punk. Essa malha continua
intemporal. É boa hoje como era há 30 anos. É imortal. Não sei se o Tó Punk
ainda a continua a ouvir. Partiu para parte incerta…
Lembro me bem do Tó que figuraça, bem ja vi que isto vai ser um vicio, parabens amigo, vamos embora para a frente
ResponderEliminarObrigado pela confiança! Grande abraço, meu amigo!
ResponderEliminarGrande Baioneta!! Apesar de ter vivido largos anos da minha vida em Alcantara, nao vivi no Alto de Santo Amaro. De qualquer forma era um bairro que eu frequentava algumas vezes e lembro-me dessa figura de quem falas. E que figura!!
ResponderEliminarGostei desta tua primeira cronica no blog.
Continua a escrever Rui pois eu, tal como fazia quando estavas na Gazeta dos Desportos e agora na ABola, ca estarei sempre! como teu fiel leitor. Grande abraço!
Obrigado, Tó! Grande abraço!
EliminarCrescer num bairro é brincar na rua, ter amigos vizinhos, é ter uma identidade. Bem que eu gostava, porém nasci numa quinta, onde apenas pude fazer a quarta classe,a partir daí fui para 20km de distância,ia a casa de 15 em 15 dias ,os meus pais não podiam pagar a escola alojamento e idas a casa.Chorava todas as noites, tinha perdido a liberdade o carinho da família.Aos 18 anos Lisboa recebeu-me, depois Castelo de Vide, Albufeira e aqui estou eu, digo apenas que sou Alentejana. Parabéns Rui.
ResponderEliminarCada experiência só enriquece... Muito obrigado!
Eliminarstrangles e punk! combinação estranha.....
ResponderEliminarÉ, não é? Mas era mesmo assim...
EliminarÉ isso tudo Baioneta. Como tu, também cresci em bairros e nos bairros. Quer nos Olivais quer no Bairro Alto, e também foi nesses locais que aprendi a palavra...solidariedade. Quanto às figuras bairristas, que por este ou outro motivo, marcaram épocas, lembro-me no Bairro Alto de um personagem (entre tantos e de quem ainda sou amigo) que dava pelo nome de "Benfica" e que era
ResponderEliminaratrevido e quezilento. Dava eu os primeiros passos no boxe no MEU saudoso Lisboa Clube Rio de Janeiro, situado bem no coração do Bairro Alto, e clube da nobre-arte só acessível a uns quantos, quando fui desafiado pela figura. Resolvemos o problema como era habitual na altura, a soco e com fartura, e sem nunca virar a cara. Não interessa que ganhou ou deu mais, sei que ficámos amigos dessa altura em diante. Era assim a vivência dos bairros, tão diferentes da solidão em multidão que se vive na actualidade. E como tu, também tenho saudades da NOSSA "Gazeta dos Desportos". Principalmente quando estávamos no Bairro Alto. Forte abraço e continua ligado à prosa que sou um teu leitor atento. Até sempre e até breve...Companheiro.
Grande abraço, meu bom amigo!
EliminarBoas meu grande irmão.
ResponderEliminarO bairro é isso tudo o que disseste é uma familia quando o pessoal se junta lá vem as memorias como que tivemos que crescer na rua aprender a ser malandro e esperto bastava um assobio o pessoal já sabia.
Ser do bairro ser do bairro não à palavras é um orgulho.
O meu bairro Ajuda o que dizer dela A Ajuda é linda como todos os bairros lisboeta.
Continua mano sempre ao teu lado forte abraço e bjs fofos
Beijinhos, princesa!
EliminarGrande Baio, belo texto!
ResponderEliminarObrigado, meu amigo! Grande abraço!
EliminarMuitos parabéns meu grande Amigo, grande iniciativa
ResponderEliminarGrande abraço e isto vai ser um vicio danado
Assim seja! Grande abraço, meu amigo!
EliminarFonix...de que foste lembrar!!! O Tó Punk....os skins...os metalicos....que tribos que deambulavam pelo Bairro!! Desde a capela, ao jardim, passando pelo Stop e pela esquina da Padaria Diana!! Grandes recordaçoes !! Cresci tal como tu no meio deles, umas vezes na mesma linha de "pensamentos e raciocinios" outras vezes nao...mas nao me arrependo de nada que fiz ou passei com essa malta (se calhar talvez nao fize-se algumas loucuras, agora pensando melhor e com mais 30 anos :) ). Grande abraço!
ResponderEliminarTempos nossos...
EliminarFantástica ideia, gosto muito.
ResponderEliminarParabéns Rui, keep on going ��
Obrigado, meu amigo! Grande abraço
EliminarParabéns Sô Rui. Bom início de jogo, fico a aguardar por mais. Um abraço
ResponderEliminarObrigado, primo! Beijinhos e abraços
Eliminarclaro que depois de ler tive que ir ouvir o grande som dos "Stranglers", não me lembro do Tó Punk a curtir la pois nessa altura era muito pita para ir ao salão de jogos, mas claro que era uma personagem inesquecível. Obrigada pela lembraça.bjss e parabens pelo Blog, tens mais uma seguidora :-)
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